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São Paulo, 21/08/2019 - O advogado Luis Eduardo Serra Netto, sócio do escritório Duarte Garciae que trabalhou no programa de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso nos anos 90, afirma que a lista de empresas que o governo pretende privatizar não surpreende, já que se trata de uma promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Mas a "voracidade" ao anunciar a venda de 17 estatais é preocupante.
Segundo Serra Netto, a preocupação se justifica por conta do processo de privatização destas empresas, que pode provocar um "desânimo" no mercado e nos eventuais interessados. "Trabalhei com muitas privatizações, e existe uma diferença grande entre anunciar e efetivar as operações. São muitas providências a serem tomadas, inclusive legislativas, e quando se coloca muitos ativos à venda de uma só vez, pode criar uma espécie de anti-clímax", explica.
Ele cita o exemplo dos Correios, que para ele é uma empresa complicada do ponto de vista regulatório. "Os Correios ficaram para trás do ponto de vista mercadológico. Hoje ela perde em eficiência para empresas privadas de entrega de mercadorias. Ela ainda tem uma particularidade, seu grande quadro de funcionários, todos em regime de funcionários públicos. E com o monopólio, o governo ou terá que mudar a legislação, ou diminuir o tamanho da empresa, o que diminuiria seu valor".
No caso da Telebras, cuja ações na B3 subiram mais de 60% hoje, o advogado acredita que será mais fácil atrair interessados, por se tratar de uma empresa mais conhecida. "Depois da privatização das teles, sobrou o 'coração' da empresa, que atua com a infraestrutura. Acho que o governo não terá dificuldades para vender".
Petrobras
Sobre a possível privatização da Petrobras, que segundo notícias na imprensa nacional, o governo pretende realizar até o fim do mandato de Bolsonaro, Serra Netto afirma que não há empresa que não seja passível de privatização. "Quando fizemos as privatizações da Embraer e da Vale nos anos 90, houve muita gritaria. A questão é que a Petrobras é uma gigante, essa deve ser a principal dificuldade. Mas a Vale também era, e hoje, é cinco vezes maior que já era como estatal. Então, o caminho da privatização é inevitável, e desejável".